Opinião – Fundo partidário: Circo garantido, pão nem sempre – por Oscar Mariano*

Mário Flávio - 04.10.2025 às 18:06h

No último dia 30, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso aprovou, por meio do Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN 15/25), um salto vergonhoso no fundo partidário que foi de R$ 1 bilhão para absurdos R$ 4,9 bilhões. Trata-se de um aumento injustificável diante da realidade de um país que convive diariamente com filas em hospitais, escolas sucateadas, estradas esburacadas, segurança pinada e uma população cada vez mais esmagada pelo peso da carga tributária.

Enquanto milhões de brasileiros lutam para sobreviver com salários defasados e um custo de vida cada vez mais insustentável, nossos parlamentares garantem para si e para seus partidos uma fatia bilionária do orçamento, dinheiro público que poderia e deveria estar sendo destinado às verdadeiras prioridades da nação. Para o povo, a conta é sempre apertada. Para os partidos, o cofre está sempre aberto.

É importante lembrar que o próprio governo federal alega constantemente limitações orçamentárias para justificar cortes, travas e até filas de espera em programas sociais que deveriam ser instrumentos de inclusão e dignidade para os mais pobres. Auxílios como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida ou mesmo investimentos em segurança alimentar e habitação popular vivem sob a ameaça de contingenciamentos e restrições, ao passo que, curiosamente, para o fundo partidário e para o fundo eleitoral, não há crise que impeça reajustes bilionários.

Esse movimento escancara, mais uma vez, a lógica perversa da política brasileira: quando o assunto é interesse próprio, não há crise fiscal, não há ajuste de contas, não há teto de gastos. Sempre existe verba para financiar campanhas milionárias e manter a máquina partidária funcionando como um negócio privado sustentado pelo suor do povo.

Infelizmente, a sociedade se mostra passiva diante de tamanha afronta. O velho ditado romano sobre o “pão e circo” nunca foi tão atual. Enquanto se oferecem migalhas de benefícios imediatos, eventos festivos ou narrativas que dividem e distraem, o brasileiro comum segue anestesiado, permitindo que bilhões sejam drenados para sustentar uma classe política cada vez mais distante da realidade do país.

O aumento do fundo partidário vai muito além de uma simples questão orçamentária: ele escancara o abismo entre quem detém o poder e quem sustenta a máquina pública com impostos. É a prova viva de que, no Brasil, os privilégios da elite política sempre falam mais alto do que as necessidades reais da população, condenada a ver seus problemas sendo empurrados para depois, enquanto os donos do poder garantem o seu banquete agora.

Esse aumento vai além do desrespeito: é um verdadeiro escárnio público. No Brasil, não existe crise quando se trata de proteger privilégios. Teto de gastos? Só vale para o povo. Ajuste fiscal? Só se for para quem não está no poder. O recado é claro, primeiro eles, depois e se sobrar, o povo.

*Oscar Mariano é assessor parlamentar e cientista político